sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A escola comum inclusiva




Qual é o princípio da inclusão? Penso que é acrescentar algo que, de antemão, não faz parte de determinado grupo. Neste sentido, consinto com o texto no argumento de que todos possuem o direito à diferença e questiono de onde surgiu a ideia de que é preciso ser normal. O que define a normalidade? Estas questões me encaminharam, mais uma vez, até Saramago:

Questão de cor

Diálogo num anúncio de automóveis na televisão. Ao lado do pai, que conduz, a filha, de uns seis ou sete anos, pergunta: “Papá, sabias que a Irene, a minha colega da escola, é negra?” Responde o pai: “Sim, claro…” E a filha: “Pois eu não…” Se estas três palavras não são precisamente um soco na boca do estômago, uma outra coisa serão com certeza: um safanão na mente. Dir-se-á que o breve diálogo não é mais que o fruto do talento criador de um publicitário de génio, mas, mesmo aqui ao lado, a minha sobrinha Júlia, que não tem mais que cinco anos, perguntada sobre se em Tías, localidade onde vivemos, havia negras, respondeu que não sabia. E Júlia é chinesa…

Diz-se que a verdade sai espontaneamente da boca das crianças, porém, vistos os exemplos dados, não parece ser esse o caso, uma vez que Irene é realmente negra e negras não faltam também em Tías. A questão é que, ao contrário do que geralmente se crê, por muito que se tente convencer-nos do contrário, as verdades únicas não existem: as verdades são múltiplas, só a mentira é global. As duas crianças não viam negras, viam pessoas, pessoas como elas próprias se vêem a si mesmas, logo, a verdade que lhes saiu da boca foi simplesmente outra. (...)


Estas reflexões, junto às ideias e propostas lidas em "A Educação Especial na
Perspectiva da Inclusão Escolar - A Escola Comum Inclusiva ", reforçam, para mim, que quanto mais a escola pensa em igualar, mais ela distancia os alunos uns dos outros e, até, de si mesmos. Não há erro algum em assumir as constantes transformações que compõem as identidades. Penso que o maior problema é acreditar que a diferença, como direito, seja algo optativo. Não é essa a ideia. A diferença como direito é a proposta de que nos desprendamos das algemas de qualquer tipo de classificação, é a permissão (ou, ainda mais, consequência natural) de ser o que se é sem que, para isso, seja preciso reivindicar.
As verdades são múltiplas, as diferenças também devem sê-lo.

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