quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Escola comum inclusiva

Uma escola inclusiva parte do ponto da existência da diferença, e não da negação da mesma (ou camuflando-a). O alvo, contudo, é chegarmos a um patamar em que a diferença represente apenas a diferença, e não uma classificação subjetiva de positivo ou negativo. O diferente não é nem melhor nem pior; apenas difere. A única "negatividade" que poderia existir seria alguém não ser diferente de outrem. Aí sim estaríamos diante de uma "diferença patológica", pois nem diferença seria, e, por não sê-la, denotaria-a como anômala.
É bom ser o melhor do time, é ruim ser gordinho e não conseguir correr.
Eu conseguia correr muito bem na educação física, mas nas atividades de matemática tinha que pedir ajuda ao meu amigo gordinho para conseguir resolver os problemas...
Entre as diferenças, há sempre um equilíbrio. Ninguém sai totalmente perdendo. Há um contrabalanço. A característica que me difere em um aspecto pode ser o atributo que me garantirá o sucesso em outro.
Às vezes me pergunto se a escola, não dando chance a esse "outro", amordaçando os alunos apenas com a vastidão de conteúdos cognitivos, também não se torna cúmplice de restringir as potencialidades individuais a um sufocamento desumano. Por exemplo, um menino cego tem dificuldade em compreender, digamos, geometria, mas se sairia perfeitamente bem tocando flauta. Agora, se a escola não explora essa possibilidade, não dá chances para essas características aflorarem, como é que eu posso trabalhar com igualdade em sua plenitude? Os alunos que conseguem enxergar compreenderão com mais nitidez os aspectos das formas geométricas, enquanto que o excelente músico em potencial, que por sinal tem um ouvido muito mais aguçado que o da maioria, será fadado ao desprezo, pois não encontra em seu ambiente de formação espaço para desenvolver os gérmens de suas capacidades naturais. Assim sendo, ele se sentirá incapaz, e isso terá uma conotação negativa para ele, que poderá ser injustamente atribuída a sua "diferença". Mas se houvesse esse espaço para ele tocar flauta na escola, será que essa "diferença" não poderia ser o motivo de um vigoroso orgulho?
Diferenças todos as temos, mas elas só se ressaltam e só ganham conotação negativa quando tornamos os meios do desenvolvimento humano indiferentes, normais e padronizados, frente a indivíduos não padronizados e diferentes entre si.

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