quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Da organização do tempo

É uma das metas do PNE ampliar a jornada escolar das crianças para 7 horas diárias. Eu particularmente discordo dessa meta.
É terrível, a meu ver, na estrutura que a escola de hoje apresenta, que se amplie a sua jornada para 7 horas diárias, assim como é terrível que a jornada de trabalho seja de 44horas semanais, qualquer que seja a situação do trabalho (e, sinceramente, qualquer meta de tempo muito superior a 6 horas diárias, em 6 dias, é sinceramente absurda na minha cabeça). O problema para mim é o mesmo nos dois casos: E o tempo do ócio? Que horas teremos livres para qualquer outra coisa? Se temos(ou deveríamos ter) pelo menos 7horas diárias de sono, pelo menos 1 hora e meia de alimentação e uns 30 minutos para usar o banheiro, além da organização básica de nossas coisas e de nosso espaço, e do tempo que perdemos nos ônibus e carros da cidade, que horas afinal brincamos, criamos, estamos com os filhos, os amigos, praticamos um exercício físico, estudamos uma arte que nos apeteça, ou simplesmente, que horas nós ficamos sem fazer nada?
Parece que as sociedades ditas industriais se esqueceram de dar tempo para o novo vir. Estamos preenchendo nosso tempo com excessivo trabalho, excessivos horários, como se fossemos máquinas. E que horas criamos? Como não ficar doentes nesse mundo cheios de horários rígidos e encaixados, nesse tempo inglês, na nóia do relógio. Me lembro sempre do documentário “Criança, a alma do negócio”, que retratava umas crianças com o tempo cheio demais – e que, curiosamente, não se sentiam crianças...
Uma coisa que passei a entender com a vida mais madura que levo é que os adultos, presos a regras do trabalho modernas e semi-escravo do salário(e eu espero que daqui a uns anos olhem para nós com o mesmo horror que nós olhamos para as jornadas diárias de 14horas por dia do século XIX), sempre ficam sonhando com a infância, num saudosismo inútil que acha que ser responsável é a grande chatice da vida. Pois eu acho que a grande chatice da vida é essa vida semi escrava que levamos, que mina nosso tempo e nossa disposição, e é muito triste, a meu ver, que ao invés de centrarmos nossa frustração em brigar por abaixar a jornada de trabalho, nós estejamos roubando o tempo das crianças...

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