Reflexões "A aula como acontecimento"

A formação do pedagogo ocorre através de um processo de reformulação de identidade profissional e também pessoal. Já não somos os mesmos desde que ingressamos no curso. Nossas crenças e ideologias se modificaram, assim como a perspectiva sobre a profissão e o tipo de interesse sobre esta.

Da mesma maneira a figura do professor foi se definindo num longo processo histórico. A primeira noção difundida era a do mestre executor. Ele não produzia o saber, mas o reproduzia. Só após o início do século XX, com outra divisão social do trabalho atribui-se nova identidade ao professor. Ele passa a se caracterizar por técnicas de dominação e controle da sala. O aluno torna-se o único culpado por não aprender. Aos poucos o saber se distancia do professor e passa ao livro didático. O educador vira mero intermediador do livro e o aluno, e por isso, o aluno é visto como o único responsável por seu insucesso escolar. O sucesso é interpretado como meio de atingir mobilidade econômica e social.

O modelo do professor controlador entrou em crise no fim do século XX, mas a centralização do alcance do sucesso continuou na meritocracia do sujeito. Ele é vítima de si mesmo. Neste cenário de crise, a escola se levanta com tom salvacionista, e também, como culpada pela estrutura social. No mesmo viés de melhoria, surge a figura do professor pesquisador, que trará grandes benefícios à realidade educacional e social.

Considero a melhor figura de professor, expressa naquele que se considera herdeiro cultural e da mesma forma considera os alunos. Utiliza essa herança em sala, e faz dessa mescla um grande material para suas aulas. E por isso jamais será reprodutor de um saber pré-estabelecido, pois usa recursos levantados em sala para trabalhar. Sabe entender as considerações dos alunos e as maneja para tornar sua aula mais próxima da realidade deles, e então, mais rica. Esse professor que adota a herança cultural em sala nunca será mero intermediador, pois sua didática é fruto de suas aulas. Jamais alinhará seu trabalho segundo um método pedagógico rígido, pois a diversidade em sala exige que cada aula seja diferente, um novo evento. As questões levantadas são ímpares, exigem grandes preparos e pesquisa do professor, que deve estar atento a cada movimento dos alunos, pois estes podem contribuir de várias formas para o andamento da aula.