quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Cooptação ou superação?

Eu gostei de saber que existe essa comunidade.
Me faz refletir sobre várias coisas.
Mas o que me chamou mais atenção foi a exploração que se faz de uma comunidade assim nos moldes que temos hoje. O que eu mais vi noticiar foi o programa da Vale, que levou os computadores para lá. Essa retórica do "trabalho social", "voluntariado", que coloca grandes exploradores dos recursos naturais e de populações inteiras de vilões a mocinhos, me irrita. Fico sempre pensando na mídia, na propaganda, na TV, como instrumentos educacionais que reproduzem e afirmam a lógica do sistema em que estamos, que esvazia bandeiras e lutas transformando-as em moda e consumo.
Ao mesmo tempo fico pensando...quem afinal levaria computadores para lá, vendo os ganhos concretos que isso resultou para essas mulheres? O Estado? Se levaria, por que em 100 anos não levou?
Me sinto meio sufocada pensando nisso. A questão é: como sair disso sem favorecer o funcionamento do "sistema"? Será que quando o "sistema" nos dá algo e faz uso de nossa imagem, ele nos cooptou para sempre?
Isso cai em outra discussão: e quem disse que necessariamente o que chamamos de "sistemas" econômicos e sociais caem de uma hora para outra? Acho que esse é um ponto interessante; talvez tenhamos essa visão pela disciplina de História que temos na escola, que trata as coisas como se tivessem grandes marcos e grandes rupturas repentinas e abruptas. Mas ver "o sistema" como um bloco a ser derrubado, como um vilão, me parece difícil, porque isso é de alguma maneira personificar algo que dita regras, se parece um pouco com a ideia de deus: expropria-se do ser humano aquilo que lhe é próprio. Se na ideia de deus se expropria tudo o que é bom do ser humano, na ideia de "capitalismo" se expropria tudo o que é mau. Então, todos os erros se justificam por aí, e o que vale é matar esse deus invertido, esse "capetalismo".
Voltando ao ponto, como sair desse impasse? Talvez a própria forma de se relacionar dessas mulheres seja anti-capitalista. Não existe uma relação de produção entre elas que seja capitalista, porque não existe relação de propriedade privada. Não consigo imaginar que algo que fosse ferir esse princípio de coletividade dessas mulheres pudesse penetrar e fazer qualquer coisa na comunidade. Então, talvez a única coisa que o capital fosse realmente ganhar seria na propaganda.
Não estou negando que há possibilidade de apropriação da imagem da comunidade pelo capitalismo. Mas será que essa primeira palpitação que me deu vendo os vídeos, pensando na Vale, não é um resquício de um marxismo preso a um "estatismo" engessante?

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