quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Produção intelectual à partir dos textos de Tomaz Tadeu da Silva, “Produção social da identidade e da diferença” e Um manifesto pós-estruturalista para a educação”

Penso que me sinto à vontade para compartilhar alguns momentos da minha infância. Ao ler os textos propostos, as experiências que vou compartilhar simplesmente emergiram da minha mente.

Gostaria apenas que não usassem de julgamentos comuns porque eu era uma criança muito ativa e comunicativa. A expressão que minha mãe usava era “menina dada”, e isso era novo para era, portanto, lhe causava medo o simples fato de eu ser “roubada”. Vivíamos na ditadura militar e o contexto era peculiar. Isso a fez exigir de mim muita OBEDIÊNCIA.

“Estávamos no Centro de Saúde e eu vi uma garota na cadeira de rodas e perguntei à minha mãe o que havia acontecido com ela. Minha mãe disse que aquela menina foi muito desobediente para a mãe e por isso Deus havia a colocado lá para não mais desapontá-la.”

“Subi na cômoda e depois no guarda roupas da minha tia para pegar um saco de balas ali escondido, mas, fiz os cálculos do tempo da ação errados, assim sendo, ela me pegou no ato da “reinação”. Aos gritos me tirou de lá, me bateu, e disse que me entregaria ao “homem do saco preto”. Disse que todas as crianças “arteiras” eram levadas por ele e que eram comidas. (Além do saco, ele também era negro).”

“Minha prima tinha uma prima que era portadora da Síndrome de Down. Um dia eu fui com ela na casa de sua tia e vi a menina. Fiquei assustada com o que vi. Foi indescritível meu medo porque, DESOBEDECER significava uma cadeira de rodas, “REINAR”, significava ser devorada por um negro, e aquilo? O que significava?

“É exatamente essa “citacionalidade” da linguagem que se combina com seu caráter performativo para fazê-la trabalhar no processo de produção da identidade. ”(p.95)


Meu pai era publicitário e eu conheci um produtor de jornais que era deficiente físico. Tínhamos um relacionamento muito agradável e um dia perguntei à ele o motivo da sua limitação. Com muito interesse pela minha pergunta disse ser vítima da poliomeilite, e descreveu sua experiência, sempre enfatizando sua normalidade de ser humano para com a vida. Ele não tinha MEDO. Ele não era diferente.

O homem negro, sujo, e carregando um saco preto vivia nos arredores do bairro. Um dia ele bateu na casa da minha avó e pediu comida. Enquanto minha avó preparava um prato bem saboroso eu fui até ele e perguntei o que havia no saco. Ele sorriu, pegou o saco, abriu e mostrou. Lá havia algumas peças de roupas, uma marmita vazia, um copo, um cobertor e um chapéu. Não havia crianças. Perguntou meu nome e se eu gostava de cachorros. Eu disse que sim. Então, no dia seguinte ele me apresentou seu “amigo canino”. Ele não era diferente.

Com a menina na minha frente, e, envolta na minha aflição, minha prima me explicou o motivo daquela anomalia. Fiquei surpresa, me virei novamente para a criança e disse à ela “olá”. A menina sorriu e disse: “vem brincar”. Ela não era diferente.

“Se o movimento entre fronteiras coloca em evidência a instabilidade da identidade, é nas próprias linhas de fronteira, nos limiares, nos interstícios, que sua precariedade se torna mais visível. Aqui, mais do que a partida ou a chegada, é cruzar a fronteira, é estar ou permanecer na fronteira, que é o acontecimento crítico.” (p.89)

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