quarta-feira, 5 de outubro de 2011

“Educação como Sujeição e como Recusa – Roger Deacon e Ben Parker”, associado à história da Comunidade Noiva do Cordeiro

“Para recusar e criticar o que somos, devemos, ao menos num sentido mínimo, ter descoberto o que somos ou como somos constituídos e ter imaginado e inventado que novos tipos de sujeito poderíamos ser.”

A frase destaca do texto Educação como Sujeição e como Recusa – Deacon & Parker, traduz de maneira muito próxima, a atitude tomada pelas mulheres pertencentes à comunidade chamada como Noiva do Cordeiro.
A comunidade mineira sofre há mais de cem anos, com o preconceito e a descriminação motivados pela história de Maria Senhorinha de Lima, que no ano de 1890 após três meses, casada com o francês Arthur Pierre, abandona seu marido e decide viver com Francisco Augusto Fernandes de Araújo, com quem teve cinco filhos. Entretanto essa atitude incomum e inaceitável para a época repercutiu de maneira negativa entre os moradores da região e perante a igreja católica que excomungou Maria Senhorinha e sua família até a quarta geração; Tal ato a levou a tornar-se prostituta. Desde então o estigma de que “filha de prostituta, prostituta é” ronda a comunidade até os dias de hoje.

Frente a essa descriminação e preconceito imprimidos sobre a comunidade pelas relações de poder, que sempre estão presentes nas relações sociais, as Noivas do Cordeiro por meio da cooperação e de sua própria organização, recusam, embora ainda sofrendo com os resultados, a ‘marca’ colocada sobre a comunidade. Realizam o plantio para a própria subsistência, confeccionam lingerie para a venda nas grandes cidades mineiras e contam com educação para seus filhos, tudo realizado de maneira coletiva.

Causa-nos estranheza, pensar que preconceitos como os sofridos pelas noivas dos cordeiro se estendem até os dias de hoje. Entretanto foi por esse preconceito sofrido que elas conseguiram “inventar novos tipos de sujeito, que poderiam ser.”. Vemos um então um movimento de recusa, pouco identificado em nossa sociedade, que de maneira muito dócil se sujeita ao poder presente em nossas relações.

O exemplo da comunidade Noivas do Cordeiro, nos permite refletir que, maneiras de se recusar o poder, que muitas vezes é danoso às pessoas, são possíveis, mesmo sendo evidente que o mesmo não se extingue. Contudo recusar o poder danoso e transformá-lo em algo benéfico é o exercício que todos os espaços sociais deveriam fazer, dentre eles a escola, que mesmo de maneira inconsciente (ou não?) produz preconceitos, descriminações e sujeição a seus alunos.

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