quarta-feira, 5 de outubro de 2011

"Noivas do Cordeiro"

Assistindo a alguns vídeos sobre as Noivas do Cordeiro, a primeira reação é uma sensação de impotência. Logo pensei "não é possível!". Isso aconteceu em pleno século XXI? No entanto, algumas outras situações começam, aos poucos, a serem relembradas e acabo por pensar que vivemos, sim, em um país contraditório. É aqui... o planeta em que há seres capazes de pensar que em meio a tantas diferenças, todos somos iguais, e seres cuja mente crê em uma espécie de superioridade moral.
Em um planeta capaz de abrigar centenas de crenças, tribos, políticas e rituais, não há como ignorar a relatividade da moralidade. Considero engraçado pensar na frase clichê "quem faz uma, faz duas". Será? Muitos não correm o risco de sofrer pelo mesmo erro. A vida ganhou um tom de novela - está cada vez mais generalizante. Não vejo maneira mais disfarçada e ingrata de reforçar preconceito e ignorância, e a criação da comunidade Noivas do Cordeiro é o exemplo vivo disso. Pude notar um contraste gritante após ter visto um documentário referente à história dessa comunidade. Há mais de um século, as mulheres de Belo Monte foram estigmatizadas pela prostituição. Isso provocou discriminação tamanha que, cansadas dessa generalização moral, as vítimas das humilhações decorrentes desse preconceito acabaram por construir a comunidade... Tudo isso no mesmo país em que uma ex garota de programa publicou um livro e "lançou" um filme.Pensar em coisas como essa é muito contraditório para mim.
No texto Educação como sujeição e como recusa li "... o poder produz múltiplos pontos de resistência contra si mesmo e, inadvertidamente, gera oposição". Assim, pude refletir que o homem, definitivamente, não contente em recusar coisas em si, faz o mesmo com o outro e, dessa maneira, vê-se no direito de achar-se superior. Porém, não obstante, a sujeição cabe àquele que compreende o mundo dividido em patamares, categorias e números... não composto por pessoas apenas diferentes.

Ver o vídeo, sofrer indignação e refletir junto ao texto de Roger Deacon & Ben Parker me fez lembrar o seguinte excerto do livro Caçador de Pipas:

"Existe apenas um pecado, um só. E esse pecado é roubar. Qualquer outro é simplesmente a variação do roubo. Quando você mata um homem, está roubando uma vida. Está roubando da esposa, o direito de ter um marido, roubando dos filhos um pai. Quando mente, está roubando de alguém o direito de saber a verdade. Quando trapaceia, está roubando o direito à justiça [...]" (HOSSEINI, 2003).

E, pensando nas questões trazidas em Noivas do Cordeiro, parafraseio:
Quando você julga uma pessoa por coisas que ela fez em um período de sua vida, está roubando seu direito de viver o presente; Quando você equipara a geração presente às gerações passadas, está roubando a oportunidade de que cada um responda por si.

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