quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Identidade, uma metamorfose de todos.


Os textos de Tomaz Tadeu da Silva expressaram, de maneira bem curiosa, a relação de dependência entre identidade e diferença. Enquanto em "A produção social da identidade e da diferença" há uma construção de seus significados, em "Um manifesto pós-estruturalista para a educação" há uma série de 'regras' - o que provocou alguns incômodos em mim. Neste, há, por exemplo, a ideia de "Preferir a diferença à identidade". Não penso que seja uma questão de preferência, mas sim de compreensão/ponderação das interpretações, de seus significados em diversos contextos. A identidade não é um conjunto de diferenças instáveis? Sendo-o, então, é necessário como mínima reflexão, questionar ambas;
Da mesma forma, no mesmo texto, quando o autor cita "A transparência evita fendas (...) ama visibilidade, a certeza." Pensei "será?". Será possível haver tamanha transparência? A transparência ama a certeza? Pelo contrário. Penso que a transparência MOSTRA/NÃO ESCONDE as incertezas... pois não é feita apenas de coisas seguras e/ou verdades. O que são as verdades diante de mil olhares? Várias possibilidades.

Lendo os textos e refletindo acerca da 'melhor maneira' para a escola abordar, confio na ideia de performatividade - em busca do 'tornar-se', da concepção da identidade como movimento e transformação.

Consinto com o autor no aspecto de que "o outro é sempre um problema, pois coloca permanentemente em xeque nossa própria identidade". Outrossim, encontrei nesta frase, o 'coração' da ideia que percorre o caminho da multiplicidade... da diversidade dinâmica, e não estática ou quase cômoda.

Afim de ilustrar o conjunto presente nessa temática, compartilho um pouco de Fernando Pessoa:


    Como é por dentro outra pessoa
    Quem é que o saberá sonhar?
    A alma de outrem é outro universo
    Com que não há comunicação possível,
    Com que não há verdadeiro entendimento.

    Nada sabemos da alma
    Senão da nossa;
    As dos outros são olhares,
    São gestos, são palavras,
    Com a suposição de qualquer semelhança
    No fundo.

    Fernando Pessoa, 1934


    Posso notar que não há como desvendar no outro que não é evidente nem mesmo em nós - a própria identidade.
    Quão diverso é possível que sejamos? Comparando-nos uns aos outros, torna-se ainda mais incalculável... Daí o fundamento da ideia de multiplicidade.


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